A melodia feroz – Monstros da violência #1

 

Saudações nobres,
2018 continua com as boas leituras e a Rainha mantém o nível frenético. As coisas podem sair do controle a qualquer momento, oremos.
A melodia feroz surpreende porque é um livro denso – não no sentido de muitas páginas – mas em termos de conteúdo. A ideia de que a violência humana possa tomar forma física é – por falta de palavra melhor – intrigante. Além disso, V. E. Shwab construiu personagens fáceis de apegar. Não é o primeiro livro da autora que leio, e incluí todos os outros na lista de leitura: são temáticas completamente diferentes e ainda assim, conduzidas de forma agradável.


A melodia feroz – Monstros da violência #1
V. E. Shwab
Editora Seguinte
384 páginas
2017

Kate Harker e August Flynn vivem em lados opostos de uma cidade dividida entre Norte e Sul, onde a violência começou a gerar monstros de verdade. Eles são filhos dos líderes desses territórios inimigos e seus objetivos não poderiam ser mais diferentes. Kate sonha em ser tão cruel e impiedosa quanto o pai, que deixa os monstros livres e vende proteção aos humanos. August também quer ser como seu pai: um homem bondoso que defende os inocentes. O problema é que ele é um dos monstros, capaz de roubar a alma das vítimas com apenas uma nota musical. Quando Kate volta à cidade depois de um longo período, August recebe a missão de ficar de olho nela, disfarçado de um garoto comum. Não vai ser fácil para ele esconder sua verdadeira identidade, ainda mais quando uma revolução entre os monstros está prestes a eclodir, obrigando os dois a se unir para conseguir sobreviver.


Monstros grandes e pequenos, cadê?
Eles virão para comer você.
Corsais, corsais, dentes e garras, sombras e ossos abrirão as bocarras.
Malchais, malchais, cadavéricos e sagazes, bebem seu sangue com mordidas vorazes.
Sunais, sunais, olhos de carvão, com uma melodia sua alma sugarão.

O colapso da violência atingiu níveis extraordinários quando começa a tomar forma física. Corsais são resultado de crimes violentos não fatais, malchais – vampirescos – resultam de homicídios e os sunais, surgiam de crimes que envolvessem a perda de muitas vidas. E a culpa é nossa. A culpa é dos humanos que não compreenderam a vivência em sociedade e o valor de cada vida e ação.
As fronteiras foram fechadas e as pessoas foram obrigadas a se virar e encarar a realidade – ou parte dela – e protegerem suas vidas e das pessoas que amavam de um jeito ou de outro.
A porção Norte é comandada por Harker e pela quantidade incrível de dinheiro que estão dispostos a pagar para ele. Essa parte da cidade parece normal, como antes dos acontecimentos trágicos de anos atrás. Harker mantém os monstros sobre controle – de maneiras nada ortodoxas ou comuns –. Ali, as coisas funcionam razoavelmente bem, mas é uma mentira, uma pincelada de glamour e brilho por cima das ruínas e do medo. Há escolas, trabalho e as pessoas vivem com relativa segurança desde que carreguem o broche de ferro com a marca de Harker. Kate quer ser apenas a filha de seu pai. O desastre com a mãe e aparente falta de controle dela são marcas permanentes na alma e na pele da jovem. Depois de ser expulsa de uma série de colégios, ela consegue retornar para casa e se empenha em ser o modelo que o pai admiraria. Ser uma Harker. E ela está bem próxima de conseguir isso – resta saber se ela gostará do resultado final –.
Kate definitivamente era uma Harker, mas pode ser que ela seja a melhor deles. Treinada para combate, observadora e extremamente estrategista. Está tão focada em sua missão de ser vista pelo pai, que esquece algumas coisas pelo caminho, como confiar em alguém. A percepção da trama de intrigas e das ideias de retomar a guerra moldada pelos monstros é um pouco demorada, mas quando ela se dá conta do que está acontecendo e de quem está por trás disso, a personagem evolui de forma surpreendente. Tem uma força incrível, e acredito que se pode esperar muito dela no livro seguinte.
— Todos sabemos quem é seu pai, mas você não precisa ser igual a ele. — Ela segurou Kate pelos ombros e a encarou no fundo dos olhos, como se estivesse prestes a dizer algo de importância vital. — Você não é seu pai.
Kate ficou levemente tensa, então conseguiu abrir um pequeno sorriso perverso.— Posso te contar um segredinho?
— Claro — disse Rachel.
Ela aproximou os lábios do ouvido da garota.
— Sou muito pior do que ele.
A parte sul é guardada por Flynn e protegida por um exército que sabe lidar bem com os monstros, não há nenhuma camada que esconda a verdade. O homem perdeu e conquistou durante o passar dos anos – seu sorriso nunca mais foi o mesmo desde os acontecimentos do Fenômeno –. Mas a sua maior e talvez única vantagem seja os sunis. Segundo os boatos, existem três e são apenas eles. O primeiro está estampado em todas as campanhas do exército, um não pode sair da torre – esse foi o acordo – e o outro é um mistério. O fato que mais o atormenta é que as investidas dos monstros do norte estão cada vez maiores e o pacto está ameaçado. A guerra se aproxima e pode ser que muitos se e beneficiem e esperem por isso. Traições vem de onde menos se espera.
August Flynn surgiu da mesma forma dos outros sunais. E a única coisa que ele queria era ser humano. Por mais que se esforçasse por horas na frente do espelho tentando imitar as feições, nada disso parecia de verdade. Ele não parecia de verdade. Suas emoções, suas expressões, eram praticamente todas emprestadas de quem ele gostaria de ser. E para entender de tudo, ele lia. Lia como se o mundo dependesse disso, como se o seu mundo dependesse disso.
Ele insistia com o “pai” para participar de forma ativa no exército, não parecia justo que seu irmão pudesse fazer isso e ele não. A oportunidade aparece justamente quando Kate volta para a parte norte, August poderia ser um espião, um infiltrado na escola para descobrir as fraquezas da filha e herdeira do inimigo. E nenhum deles poderia prever as consequências disso.
Assim como os outros monstros, os sunais precisam se alimentar. Porém eles podem fazer de forma mais poética e caótica, depende do quanto de escuridão estão dispostos a deixar entrar. August tem medo de que as marcas tão importantes em seus braços desapareçam, e com isso a volta daquilo que o torna nada mais que um monstro de verdade.
Você já viu um monstro de perto?
Kate se recostou no banco.
Freddie Gallagher não era um aluno comum.
Ele sequer era humano.
A relação dos protagonistas é fácil. Eles têm alguns aspectos semelhantes, embora não fique tão claro. É agradável estarem juntos. E mesmo que as diferenças sejam tão palpáveis, a construção do relacionamento e da confiança foi bem produzida – eu controlaria o shipp se fosse vocês –. Os outros personagens, apesar de ter menos presença são importantes e bem trabalhados. Em termos de profundidade, porém, praticamente só nos protagonistas será percebida.
A leitura transcorreu de forma rápida, sem delongas e descrições desnecessárias. Os cenários criados foram bem explorados e representados. A autora foi feliz na construção desse mundo distópico. Mas ainda há muito que ser explorado, e aguardarei o segundo volume com ansiedade. Recomendo para os que estão procurando uma leitura diferente ou mesmo que queiram sair da zona de conforto.  
E ele desaparecia.
O que quer que o compusesse — poeira de estrelas, cinzas, vida ou morte — desapareceria.
Não com uma explosão, mas com um suspiro.
Entrando em disparos e saindo em fumaça.
August não estava disposto a morrer.
Ainda que sobreviver não fosse simples ou fácil ou justo.
Ainda que nunca pudesse ser humano.
Ele queria ter a chance de fazer a diferença.
Queria viver.


Continuação
Our Dark Duet (Monsters of Verity #2)
Editora Greenwillow Books
510 páginas
2017 (EUA)
Kate Harker is a girl who isn’t afraid of the dark. She’s a girl who hunts monsters. And she’s good at it. August Flynn is a monster who can never be human, no matter how much he once yearned for it. He’s a monster with a part to play. And he will play it, no matter the cost.
Nearly six months after Kate and August were first thrown together, the war between the monsters and the humans is terrifying reality. In Verity, August has become the leader he never wished to be, and in Prosperity, Kate has become the ruthless hunter she knew she could be. When a new monster emerges from the shadows—one who feeds on chaos and brings out its victim’s inner demons—it lures Kate home, where she finds more than she bargained for. She’ll face a monster she thought she killed, a boy she thought she knew, and a demon all her own.



V. E. Shwab
Victoria é o resultado de uma mãe britânica, um pai de Beverly Hills e uma educação sulista. Por causa disso, ela é conhecida pelo seu sotaque. Ela também conta histórias, além de amar contos de fadas, folclore e histórias que a fazem imaginar se o mundo realmente é o que parece.

Livros publicados
A bruxa de Near (2013)
A guardiã de histórias (2016)
Um tom mais escuro de magia – Tons de magia #1 (2016)
Um encontro de sombras – Tons de magia #2 (2017)
A melodia feroz – Monstros da violência #1 (2017)


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2 comentários:

  1. Oii! :)
    Faz taaaanto tempo que não leio nada deste tipo! A capa me chamou a atenção e ainda não li nada da autora, mas fiquei curiosa. Gosto desta histórias onde os opostos se unem de alguma forma. Apesar de não ser o meu tipo de leitura, adorei a resenha e vou adicionar a minha lista! <3

    Beijos

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  2. Oii!!

    Acho que só agora liguei os pontos... essa autora é responsável por Um Tom Mais Escuro de Magia ¬
    Eu adorei a resenha, e como essa foi a primeira que li sobre o livro, Já da pra ver o meu entusiasmo pra ler o livro. Eu amei o enredo do livro, e esses personagens me lembraram um casal que li em The Diabolic...

    P.s por causa de resenha linda (e por causa dessa história DIVA), eu coloquei mais um livro na minha listinha que a pouco estava diminuindo.

    Beijoss, Enjoy Books

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