O gigante enterrado


Saudações nobres,
Algumas coisas são engraçadas e surpreendentes. Nunca imaginei que ter um Conselho fosse tão fazer tão bem para o Castelo, fosse ajudar e movimentar tanto. E interação com o Conselho também é divertida, apesar da Rainha ser um tanto tirânica. Eis que ontem recebo um áudio bastante animado do Lorde, e cá esta o resultado na sua animação. 



Livro: O gigante enterrado
Autor: Kazuo Ishiguro
Editora Cia das Letras
Uma terra marcada por guerras recentes e amaldiçoada por uma misteriosa névoa do esquecimento. Uma população desnorteada diante de ameaças múltiplas. Um casal que parte numa jornada em busca do filho e no caminho terá seu amor posto à prova - será nosso sentimento forte o bastante quando já não há reminiscências da história que nos une?
Épico arturiano, o primeiro romance de Kazuo Ishiguro em uma década envereda pela fantasia e se aproxima do universo de George R. R. Martin e Tolkien, comprovando a capacidade do autor de se reinventar a cada obra. Entre a aventura fantástica e o lirismo, "O gigante enterrado" fala de alguns dos temas mais caros à humanidade: o amor, a guerra e a memória.
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O Gigante Enterrado – Kazuo Ishiguro
Heider Carlos
O Lorde

Eu nunca tinha ouvido falar no Kazuo Ishiguro até ler uma interessante entrevista (que está mais pra uma conversa) entre ele e o Neil Gaiman no newstatesman. O livro que ele havia acabado de publicar, The Burried Giant, parecia bom. E então eu esqueci dele novamente. Muitos livros parecem bons, e eu me preocupo mais com os que estão empilhados do lado da minha cama esperando sua vez do que em aumentar a pilha.
O tempo passa. A Saraiva faz uma mega promoção e eu vejo o livro lá, numa versão traduzida pela Companhia das Letras. Acabei comprando baratinho. Aqui fica meu primeiro comentário: o livro é muito bonito. Com as bordas coloridas de um tom muito calmo de azul e toda uma textura na capa que acaba nos convidando a passar a mão. É um livro que primeiro se apresenta de maneira visual e tátil, e dá vontade de lê-lo sempre em público, de tão bem feito.
A história é sobre um casal de velhinhos. Eu adoro histórias sobre idosos: eles já viveram muito, tem mais bagagem, e são simplesmente mais interessantes pra mim. Isto inclui cinema (La Grande Bellezza, do Paolo Sorrentino, e O Centenário Que Fugiu Pela Janela e Desapareceu, do Felix Herngren estão entre meus filmes prediletos). E inclui também livros (The Old Man and the Sea, do Hemingway, ou os livros das bruxas de Discworld).

É um livro sobre memórias. Em O Gigante Enterrado há uma névoa que faz com que as pessoas não consigam se lembrar de fatos antigos e novos. Eu sofri traumatismo craniano em um assalto e perdi o equivalente a um ano de memórias emocionais. Por conta disso adoro histórias sobre o tema: ele ressoa comigo.
E, caso não tenham notado na parte sobre uma névoa que apaga memórias, é um livro de fantasia. Fantasia inglesa arturiana clássica, com cavaleiros, missões, dragões e ogros. Bem diferente dos livros mais recentes de fantasia, que são mais realistas e até, de certa forma, científicos e céticos.

Então vamos lá: tem idosos, tem memórias, tem fantasia. Foi recomendado pelo Neil Gaiman. Este livro tem tudo para me agradar.

Achei uma merda.

É claro que todo gosto é uma questão pessoal, e que o máximo que qualquer crítico pode fazer é tentar explicar o porquê certas coisas conseguem ou não despertar sentimentos nele. Que cada um deve conferir por si, se possível, ou pelo menos procurar algum crítico que tenha gostos parecidos com os deles.

Dito isso vamos as pedras, porque minha mão está cheia delas.

O ritmo do livro é lento. Leeento. Leeeeeeento. Do meio para o fim dá uma melhorada, mas nisso já se foram duzentas páginas de nada interessante acontecendo. Os protagonistas se chamam Axl e Beatrice. Axl é até suportável, mas Beatrice é o ápice da passividade. Os diálogos entre eles são interessantes e até fofos, mas somos lembrados o tempo todo sobre quão limitados eles são.
Há alguns encontros pelo caminho. Um cavaleiro de Artur e um guerreiro poderoso chamado Wistan se tornam recorrentes e estão envolvidos com o passado e futuro do país. Há também um menino, Edwin, que tem uma introdução muito boa, nos lembrando do que acontece quando superstições e medo tomam conta de grupos. Mas depois ele vai sendo relegado a segundo plano, tendo que ser levado arrastado até o final.

Não vou mentir: o final é bom. Muito bom. Se fosse um conto o final forte o faria mediano, talvez até memorável. Mas ler quatrocentas páginas por conta de duas ou três é um enorme desperdício de tempo. No fim das contas ele teve em mim o mesmo de sua névoa que aflige os personagens: está destinado ao esquecimento.


PS: Se alguém vier dizer que eu não entendi o livro minha resposta padrão (que a Ana vai acabar deletando) é “seu cu”. Eu levei em conta que o livro podia ser uma metáfora escondida. Isto não muda nada.

PS²: Quer um bom livro que lida com memórias, é “adulto” e de fantasia? Fica a minha recomendação de A Fine and Private Place, do Peter Beagle.

PS³: Eu terminei este livro (e esta resenha) meros dias antes do Kasuo Ishiguro ganhar o prêmio Nobel de literatura! Pelo que li seus livros são bem diferentes entre si, o que não apenas é legal pra mim (quem sabe não gosto dos outros?) quanto é algo notável e qualquer escritor. O prêmio Nobel de literatura é fortemente político, mas é burrice achar que alguém ganharia sem méritos. Desejo a ele meus mais sinceros parabéns.


“Let's talk about genre”: Neil Gaiman and Kazuo Ishiguro in conversation



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