Mindhunter - O Primeiro Caçador de Serial Killers Americano




“Eu certamente esperava que ele fosse branco, já que todas as vítimas eram, e imaginava que ele trabalhasse como operário, no setor mecânico ou industrial.[...]E, se pesquisassem seu passado, encontrariam um histórico de urinar na cama, provocar incêndios e cometer crueldade contra animais, ou pelo menos duas destas três características. Mais uma coisa [...] o assassino terá um distúrbio de fala.”


Saudações nobres,
O Lorde trouxe mais uma grande crítica para o Castelo. Novamente, mantive a organização dele em detrimento da padronização de antes.

Mindhunter - O Primeiro Caçador De Serial Killers Americano - John E. Douglas
Heider Carlos

Parece algo saído de um livro do Sherlock Holmes, mas é na verdade uma dedução de John Douglas. Ou indução, como ele mesmo se refere ao processo. John Douglas é um agente do FBI que foi um dos pioneiros na elaboração de perfis de criminosos.
Ser chamado de Sherlock Holmes é um elogio enorme – a não ser, é claro, que a pessoa esteja se referindo ao hábito de injetar cocaína na veia. E certamente John Douglas merece parte da alcunha (pelo trabalho de detetive – não posso garantir nada sobre a cocaína). Mas há algumas diferenças entre eles:
Embora uma parte das induções de John Douglas sejam lógicas, boa parte da abordagem é empírica e sem nenhum embasamento científico. Ele sabe como os assassinos são porque analisou centenas, talvez milhares de crimes. É mais comparação que raciocínio bruto. Sherlock Holmes é uma criatura mais lógica. Embora, claro, ele resolva seus crimes.
Muitos dos casos relatados por John Douglas se baseiam também em provas circunstanciais, que nunca foram de muito agrado a o Sherlock. Várias histórias do detetive começavam assim:

Inspetor Lestrade: - Olha só o que eu deduzi sozinho porque é a única conclusão que se pode tirar disso.
Sherlock Holmes: - Mano tu tá falando merda pra caralho.*

Outra grande desvantagem do livro em si é que os protocolos e estudos relacionados a investigação mudaram muito. Várias passagens me deixaram meio angustiado. Provavelmente por isso o livro já começa com um aviso “Originalmente publicada em agosto de 1996 nos Estados Unidos, esta obra reflete o ponto de vista dos autores neste período e em épocas anteriores. Além disso, para preservar a integridade do texto, a editora optou por não alterar informações relativas a eventos posteriores à primeira publicação. ” Um ótimo jeito de lavar as mãos.
Mas John Douglas leva duas grandes vantagens sobre o mais famoso detetive do mundo: ele existe e ele salva vidas de verdade.
Ah, tem uma série da Netflix sendo lançada a respeito dele. Mas eu não sei nada da série além de que ela dirigida pelo do incrível David Fincher (Se7en, Clube da Luta, Zodíaco, House of Cards...). E embora eu admire muito o diretor ele provavelmente não conseguirá ser a obra baseada no John Douglas mais famosa. Ele inspirou o Jack Crawford dos livros do Thomas Harris (Hannibal, Silêncio dos Inocentes) e também o Will Graham da série de TV.
O livro começa falando da vida do autor, que escreve de maneira bem egocêntrica. Não estou falando que ele não devia escrever assim, ou não mereça. É só que não agrada todo mundo, e me incomodou várias vezes. Embora seu relato sobre trabalhar no FBI em plena Guerra Fria seja bem menos engomadinho do que eu esperaria.
A partir daí ele começa a narrar casos em que capturaram criminosos e a leitura deslancha. Não é um livro que eu considere particularmente bem escrito – o autor certamente tem muito mais familiaridade com relatórios do que com literatura. Ele é, de certa forma, mal estruturado e sem ritmo. Mas isso não importa muito. Ele está falando de assassinos em série, cultistas assassinos e gente da pior qualidade. Pessoas de verdade, crimes de verdade. Seria preciso um texto desgraçadamente ruim para estragar a atração que assuntos assim exercem.
Ah, os assuntos são bem pesados. Não acho que alguém que não aguente ler sobre estupros, pedofilia, necrofilia, desmembramentos, tortura e similares chegaria perto deste livro. Mas é bom avisar. Várias descrições me fizeram contorcer de choque.
O livro tem várias teorias do autor espalhadas. Ele fala que normalmente assassinos em série na infância são cruéis com animais ou outras crianças pequenas, colocam fogo em coisas e fazem xixi na cama até uma idade mais elevada que o normal. Normalmente são homens e matam dentro de sua raça. Normalmente foram abusados física ou psicologicamente na infância. Podem ser divididos entre organizados e desorganizados. Tinham predileção por fuscas, depois por vans e kombis. Ele não apresenta nenhuma teoria de porquê mais de 3/4 de todos os assassinos em série serem dos Estados Unidos da América.
Há suas teorias sobre crime em geral. Ele dá sua opinião sobre a pena de morte. E ele faz esta citação sobre crimes violentos que gostei tanto que irei transcrevê-la aqui: “Não há problema algum em aumentar o número de policiais, tribunais e presídios, e em melhorar técnicas investigativas, mas o único jeito de reduzir a criminalidade é se todos nós pararmos de aceitar e tolerar isso dentro de nossas famílias, entre nossos amigos e conhecidos. Essa é uma lição que devemos aprender de países com taxas muito mais baixas que as nossas. Na minha opinião, só este tipo de solução de base tem o poder de ser eficaz. O crime é um problema moral. Só pode ser solucionado em nível moral.”
Embora eu, sem formação ou prática algum com criminalidade, não concorde que seja o único jeito, o acobertamento dos crimes por pessoas próximas a nós me parece algo não tem destaque o bastante. Eu acho que John Douglas ama seu trabalho, que sem dúvida é necessário. Mas ele reconhece abertamente os fardos que ele lhe trouxe. E sabe que o mundo ideal é um onde ele não seria necessário. Eu não tenho fé que este futuro chegue tão em breve, ou sequer que um dia chegue. Mas admiro quem tenta consertar como pode os problemas existentes.

*levemente adaptado

Leve este post a outro reino:

4 comentários:

  1. Oii! :)
    Acredita que eu não criei coragem para ler este livro até hoje?! Não tinha visto nenhuma resenha sobre ele, mas gostei do que você falou sobre o livro, foi bastante sincero. Apesar de ter me deixado um pouco apreensiva com o que eu vou encontrar.

    Espero ler em breve!
    Beijos

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    1. É muito bom e não é tããão pesado assim, considerando o tema. Se gostar posta depois o que achou ^^

      Beijos

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  2. Oieee, algumas pessoas me recomendaram a assistir à série da Netflix, enquanto outras já me disseram pra adquiri o livro, e eu até agora não tinha tido nenhum panorama sobre o que realmente o livro abordaria. Bom saber que ele vai tratar de temas bastante pesados que giram em torno de criminosos. Eu ainda quero adquirir um exemplar e realizar a leitura. :)

    Bjs
    Mih
    http://www.paradisebooks.com.br/

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    1. Eu não vi a série do Netflix, mas tirando o formato ela parece bem interessante. Sou muito ruim pra ver séries. Não acho que um estrague o outro, parecem ser bem complementares. Boa sorte na sua escolha ^^

      Beijos

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