Saga Encantadas



Saudações nobres,
A Saga Encantadas demanda uma crítica conjunta. A trilogia entrelaça personagens de diversos contos de fadas de forma inesperada, algo confusa e com classificação +18. A minha primeira indicação seria: “Pegue seu bloquinho de anotações e trace os encontros e desencontros de personagens. Ignore a linha do tempo, ela é tênue e caótica”. Dito isso, esclareço que eu tenho a versão do box – link de compra abaixo – então as edições são menores e realmente tem o mesmo número de páginas. A diagramação não deixa a desejar, as páginas são brancas e bem elaboradas.


Veneno – Saga Encantadas #1
Sarah Pinborough
Única Editora
223 páginas
2013

Para os fãs de Once Upon a Time e Grimm, Veneno é a prova de que contos de fadas são para adultos! Não existe Felizes para sempre! 
Você já pensou que uma rainha má tem seus motivos para agir como tal? E que princesas podem ser extremamente mimadas? E que príncipes não são encantados e reinos distantes também têm problemas reais? Então este livro é para você! Em Veneno, a autora Sarah Pinborough reconta a história de Branca de Neve de maneira sarcástica, madura e sem rodeios. Todos os personagens que nos cativaram por anos estão lá, mas seriam eles tão tolos quanto aparentam? Acompanhe a história de Branca de Neve e seu embate com a Rainha, sua madrasta. Você vai entender por que nem todos são só bons ou maus e que talvez o que seria um final feliz pode se tornar o pior dos pesadelos! Veneno é o primeiro livro da trilogia Encantadas, e já é um best-seller inglês. Sarah Pinborough coloca os contos de fadas de ponta-cabeça e narra histórias surpreendentes que a Disney jamais ousaria contar. Com um realismo cínico e cenas fortes, o leitor será levado a questionar, finalmente, quem são os mocinhos e quem são os vilões dos livros de fantasia.

No primeiro volume da trilogia, a autora deixa claro a que se propõe: personagens sem a inocência tecida pela Disney e mais picantes do que os traçados de Jacob e Wilhelm. Acredito que todos conheçam de alguma forma o conto da Branca de Neve. Me atentarei à visão diferente apresentada por Sarah Pinborough.
Lilith é a Rainha, bela e impiedosa. Tem total controle do Rei e conquista o que mais quiser com medo. Não importa que não seja amada pelo povo como Branca de Neve, ser temida já é o suficiente. Também é ciente do seu poder, da sua magia e a usa com sabedoria. Aos olhos da madrasta, a princesa não passa de uma criança, com acessos e chiliques, pouco preocupada com o futuro ou com os modos que deveria ter.
“A que se devia essa necessidade de ser benevolente? Se é para ser cruel então admita isso. Abrace isso. Qualquer outra coisa era apenas ilusão e fraqueza.”
Branca de Neve, definitivamente, queria ser livre. O mundo girava ao seu redor e ela não desgostava disso.
A situação muda quando o Rei precisa partir para a guerra e o reino é deixado nas mãos da Rainha. Lilith tem seus planos e não deixará que ninguém a impeça. Seguimos o curso natural da Rainha para se livrar de enteada.
O caçador recebe sua missão, e como era de se esperar – talvez não exatamente pelo mesmo motivo do clássico –, apiedasse da jovem princesa e conta o motivo de sua chegada. Ela fica perplexa ao constatar o ódio movido por sua madrasta e a impressão desse sentimento deve ser guardada no fundo da mente do leitor, ela será importante mais adiante.
A princesa ruma para o coração da floresta, já sabendo onde encontrar os anões – amigos de longa data –. Apesar de todos os cuidados, Branca cai nas maquinações de Lilith mais de uma vez e a última culmina na maçã envenenada e na “morte” da protagonista. O príncipe a salva, quando o pedaço preso em sua boca se solta. Inicia-se então a trajetória ao reino do príncipe para que a amada esteja finalmente à salvo das loucuras da Rainha.
Porém, as aparências podem esconder segredos demais, e tanto o príncipe quanto Branca de Neve ficarão pasmos com essas constatações. O final é surpreendente e sai por completo do “felizes para sempre”.
Personagens conhecidos são introduzidos, e cada um tem seu papel na trama – por isso recomendei que anotasse sobre essas aparições –, e perderia boa parte da diversão lista-los aqui.
Vale ressaltar que as personagens femininas da trama são construídas de maneira forte e independente, não há homens em seu caminho que as faça abaixar a cabeça. Branca de Neve e Lilith são mulheres distintas. O Caçador é um personagem interessante, que merece atenção.
“– Olá de novo, querida – murmurou ele, prendendo uma mecha do cabelo dela trás da orelha. – Senti sua falta. Pág. 198”




Feitiço – Saga Encantadas #2
Sarah Pinborough
Única Editora
223 páginas
2013

Cuidado com o que você deseja!
Para fãs de Once Upon a Time e Grimm, a série Encantadas prova que contos de fadas são para adultos!
Você se lembra da história da Cinderela, com sua linda fada madrinha, suas irmãs feias e um príncipe encantado? Então esqueça essa história, pois nesta releitura de Sarah Pinborough ninguém é o que parece. Em um reino próximo, a realeza anuncia um baile que encontrará uma noiva para o príncipe e parece que o desejo de Cinderela irá ganhar aliados peculiares para ser realizado. Contudo, não será fácil: ela não é a aposta de sua família para esse casamento real, e sua fada madrinha precisa de um favorzinho em troca de transformar essa pobre coitada em uma diva real. Enquanto isso, parece que Lilith não está muito contente com os últimos acontecimentos e, ao mesmo tempo em que seu reino parece sucumbir ao frio, ela resolve usar sua magia para satisfazer suas vontades.
Feitiço é o segundo volume da trilogia iniciada com Veneno, um best-seller inglês clássico e moderno ao mesmo tempo em que recria as personagens mais famosas dos irmãos Grimm com personalidade forte, uma queda por aventuras e, eventualmente, uma sina por encrencas. Princesas, rainhas, reis, caçadores e criaturas da floresta: não acredite na inocência de nenhum deles!

“Cinderela achou que poderia matar por um vestido como aquele, ou mesmo por uma única volta naquela bela carruagem. (...)”. Pág. 17
A protagonista do segundo volume é Cinderela, muito embora ela seja bem diferente do que povoa o imaginário infantil. Nessa versão, Cinderela ainda mantém suas funções domesticas, mas parece perceber pouco que é na realidade mimada e preocupada demais com o próprio nariz.
A madrasta abandona o Conde com quem era casada para se juntar ao secretário do nobre: o pai de Cinderela – um escritor a beira da falência –. As irmãs não são pintadas como caricaturas feias, Ivy conseguiu um casamento nobre – o que ajudou a situação da família – e Rose pode ser uma opção para o príncipe. Porém, Cinderela – com ajuda da Fada Madrinha, que não parece tanto assim uma fada e ainda cobra favores –, aparece no baile com seu suntuoso vestido e portando a maravilha que será capaz de fisgar o príncipe: os sapatinhos de diamante. Três bailes são suficientes para que o príncipe decida-se pela jovem ruiva desconhecida e abra mão de qualquer outra, até mesmo de Rose, que conseguiu sua atenção no primeiro momento. Esme, madrasta de Cinderela, se desespera com a situação, todas as suas esperanças morreram naquele último baile, quando sua filha caçula foi dispensada na frente de toda a corte.
Como de praxe, Cinderela se atrasa, perde um dos sapatinhos e a ordem para que todas as damas do reino o experimentem é dada.  Aqui, há uma aproximação do conto dos Grimm, quando Rose – no cúmulo da loucura – arranca parte do seu pé. O sapatinho – como esperado – acaba nos pés de Cinderela.
A família da Gata Borralheira fica pendurada entre a salvação a sensação de traição. Os sentimentos de cada um é diferente, mas chegam a mesma conclusão: Cinderela pouco pensou nos outros antes de si. Ela, por outro lado, está convencida de que agindo daquela forma tinha resgatado a família, a despeito da dor causada em sua “irmã”.
A vida no castelo se mostra bem diferente dos seus sonhos, e pouco a pouco a jovem percebe os inúmeros erros cometidos. Durante o cumprimento do tratado com a Fada Madrinha, Cinderela se interessa pelas andanças noturnas de seu futuro marido e descobre algo inquietamente obscuro. Esse fato mudará a vida dela e será capaz de tirá-la das amarras em que se enrolou.
O Caçador faz sua aparição de forma tão boa quanto no primeiro livro. Suas ações colocam pontos finais em situações impossíveis e, há de se convir, ele ganhou muito mais do que poderia imaginar nesse volume.  
Rose é uma personagem fantástica, muito mais interessante e complexa do que Cinderela. Sua mente lógica e raciocínio rápido foram responsáveis pelo “final feliz” de “Feitiço”. O fato é que Cinderela cresceu pronta para os contos de fadas, para príncipes e cavalos brancos, para amor à primeira vista, para magia pura e inocente. Ela descobre que cada magia tem um preço e todas elas são tão úteis quanto maldições.
“– Nós não contamos para você porque era pequena demais. Sentimos pena. – Lágrimas frescas encheram seus olhos. – Nós amávamos você. Você era uma bonequinha linda minha e de Ivy. Minha mãe costumava pegar você no colo e lia histórias e acariciava seus cabelos até você dormir. Por que você acha que quer tanto se casar com um príncipe? Que acha que contou a você essas belas histórias de palácios?” Pág.106.
Talvez Cinderela seja inocente, não pura como era de se esperar, mas guardou desde a infância a ideia de amores perfeitos.
Como na primeira obra da trilogia, várias referências e outros personagens são introduzidos na trama. E o epílogo é, sem sombra de dúvidas, a parte mais inesperada dos dois livros.




Poder – Saga Encantadas #3
Sarah Pinborough
Única Editora
223 páginas
2013

Acordar uma princesa pode ser letal.
Para fãs de Once Upon a Time e Grimm, a série Encantadas prova que contos de fadas são para adultos!
Quando um príncipe mimado é enviado pelo seu pai para tentar desvendar os mistérios de um reino perdido, ninguém imagina os perigos que ele encontrará pela frente! Acompanhado da figura sóbria e sagaz do Caçador e de Petra, uma jovem valente que possui uma ligação muito forte com a floresta, o príncipe acaba encontrando um reino adormecido por uma estranha magia. Todos os seres vivos foram cercados pela densa mata e estão dormindo, em um sono pesado demais, que só poderia vir da magia. Mas que tipo de bruxaria assolaria uma cidade inteira e seus habitantes? E, principalmente, quem faria mal a uma jovem rainha tão boa e tão bela? A não ser, claro, que os olhos não percebam o que um coração cruel pode esconder...
Poder é o terceiro volume da trilogia Encantadas, e traz como história principal o conto da Bela Adormecida. Porém, esqueça os clichês tradicionais e se entregue a uma nova visão dos contos de fadas, em que heróis e anti-heróis precisam se unir para não perecerem à beleza superficial de princesas e rainhas egocêntricas e aos príncipes em busca de aventuras.

“– Sonhe conosco para sempre – sussurrou ele. – E seus sonhos podem ser maravilhosos”.  Pág. 192
Poder é o último livro da trilogia e espera-se que todas as pontas sejam amarradas. E isso não acontece. Nesse ponto, a linha do tempo fica confusa e situações que aconteceram no livro 2 ainda são aguardadas no livro 3. Há também uma junção de muitos personagens de outras histórias e isso dificulta a compreensão do que está acontecendo. Voltamos à conveniência de seguir um bloquinho de notas.
Nesse livro é difícil estabelecer um protagonista: poderia ser o príncipe que sai em sua aventura, poderia ser Bela – a Adormecida –, bem como poderia ser Chapeuzinho Vermelho e o Lobo, e por último – mas não menos importante – o Caçador. Talvez por ter tantos personagens importantes, eu tenha sentido falta de maior desenvolvimento da obra.
O ponto inicial é a decisão do rei em dar uma aventura para o príncipe, a ideia é que ele descubra o que aconteceu em uma parte da floresta onde um reino fora esquecido há tempos, os tesouros podem ser bastante úteis. Para fazer companhia – disse-se guarda – do príncipe, o Caçador é o escolhido. Ao embrenharem-se na floresta, acabam na casa da avó de Petra, na intenção de salvá-las de um enorme lobo – o que se mostra bastante ineficiente –.  O elo é criado, e após esclarecerem para as mulheres quais eram as suas intenções naquelas paragens, fica acordado que a menina da capa vermelha os acompanhará: ela conhece o destino que desejam alcançar.
O castelo é de fato encantado, e dificulta fortemente qualquer tentativa de aproximação. Mas a teimosia humana é conhecida e por fim, os três atravessam o muro de era. Percebem que ao contrário do imaginado, não há esqueletos: apenas pessoas e animais dormindo nas mais inusitadas situações. Percorrem caminhos até chegarem ao castelo e por fim, aos aposentos de uma jovem bela de cabelos negros e duas mechas loiras. A jovem está dormindo como toda a gente, porém, de seu dedo goteja sangue e está a ponto de extinguir sua vida. Pessoas não pensam muito antes de salvar vidas – seja por meio de um curativo ou de um beijo de amor verdadeiro –. Bela desperta, e para encanto dos três viajantes, todo o reino abre os olhos.
Há, porém, maquinações por trás de tudo isso. E um mal maior do que o que assolara a Rainha: a Fera. Uma Fera reside no castelo é ela é imbatível – tanto em força quando em crueldade –. E enquanto alguns desejam fazê-la desaparecer, outros parecem gostar da influência que ela exerce nas pessoas.
Um personagem lendário e com muitas facetas – a maioria com histórico negativo –, aparece e é graças ao seu plano que a esperança se instala em um pequeno e seleto grupo.
Petra encontra o que tanto procura e o que a chamou durante aqueles anos na floresta, mas seu sacrifício era enorme. O caçador e o príncipe terão pesadelos para toda a vida com o que suas atitudes – covardes ou não – geraram. E o personagem – misterioso e especial – terá surpresas e sua vingança.
“O príncipe ficou olhando fixamente para o fogo, dividido entre a tristeza e a comemoração, entre a Bela e a Fera, então deixou a clareira.” Pág. 210
Chego ao final da resenha tendo certeza da evolução da escrita da autora durante o desenvolvimento dos livros, ainda que o meu preferido seja o segundo, há bastante que ser explorado na trilogia. São livros curtos, sem descrições desnecessárias, um livro por dia sem grandes problemas. Mas notei falhas no roteiro, como a linha do tempo confusa e o final aberto. Apesar de finalizar o enredo proposto em “Poder”, há inúmeras pontas soltas e fatos para serem resolvidos/fechados. Procurei outras informações ou se havia alguma continuação não publicada no Brasil. E não, não tem. Sarah Pinbourough realmente finaliza a trilogia com todos esses caminhos abertos e passagens confusas. Deixa a desejar? Sim, muito. Porque é cativante o que a autora desenvolve e há – por parte do leitor – toda uma gama de curiosidades não relevadas. A leitura é recomendada? Sem dúvidas, os livros são bons, apesar dos aspectos negativos.



Sarah Pinborough
Sarah Pinborough é uma autora britânica. Seus contos foram publicados em várias antologias e ela também escreveu o décimo volume de Torchwood, Into the Silence, para a BBC Books.
Foi duas vezes pré-seleccionada para o British Fantasy Award for Best Novel e quando ela não está escrevendo, normalmente pode ser encontrada rindo com os amigos e bebendo vinho, provavelmente com um gato.

Obras publicadas no Brasil
Veneno (2013)
Feitiço (2013)
Poder (2014)

Leve este post a outro reino:

3 comentários:

  1. Ja ouvi diversas criticas sobre essa serie.
    Tem pessoas que amam e outras que odeiam. rsrsrsr
    O blog esta lindo
    Parabens

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    Respostas
    1. Saudações Lady Dayse,
      Consigo entender porque esses livros despertam o sentimento hahaha eles tem muitos pontos positivos, mas deixam muito a desejar. Acho que seria possível escrever de forma bem mais atrativa e fechada.

      Agradecemos a vossa visita!
      Demore o quanto quiser, serás sempre bem-vinda.
      Att
      A Rainha ♛

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  2. Ja ouvi diversas criticas sobre essa serie.
    Tem pessoas que amam e outras que odeiam. rsrsrsr
    O blog esta lindo
    Parabens

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