Minha Querida Sputnik


(...) se me permitem uma generalização medíocre, as coisas inúteis também não têm um lugar neste mundo longe de ser perfeito? Retire tudo o que é fútil de uma vida imperfeita e ela perderá, até mesmo, sua imperfeição.


Livro: Minha Querida Sputnik
Autor: Haruki Murakami
Sinopse:
O livro conta a história de Sumire, uma jovem de 22 anos que se apaixona pela primeira vez. Uma paixão avassaladora que tem como alvo Miu, uma mulher casada e 17 anos mais velha. Mas, enquanto Miu é uma mulher glamourosa e bem-sucedida negociante de vinhos, Sumire é uma aspirante a escritora que se veste e se comporta como um personagem de Jack Kerouc mas que, em nome do desejo, é obrigada a dar outro rumo a sua trajetória.
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Minha Querida Sputnik – Haruki Murakami
Heider Carlos

Eu queria ler algo do Haruki Murakami e decidi começar por um livro qualquer. Sem pesquisar a respeito fiz a pior escolha possível: Do Que eu Falo Quando Falo de Corrida. Não que seja um livro ruim. Mas, sendo não-ficção e falando sobre as experiências pessoais do autor em triátlon e maratonas, não tinha nada muito característico. É tipo querer conhecer um autor de ficção lendo um artigo científico que ele publicou.
Já o segundo livro que escolhi foi um tiro no peito: Norwegian Wood. E por mais incrível que a leitura tenha sido, ainda faltava alguma coisa. Norwegian Wood não tem as cenas surreais que marcaram o autor e que todo mundo comentava a respeito. Então decidi ir pro próximo livro – não que fosse um sacrifício, a prosa do Murakami é deliciosa.
O narrador de Minha Querida Sputnik (não contam seu nome) conheceu Surime na faculdade. Ele se graduou e começou a trabalhar como professor. Já a moça caótica largou a faculdade para se dedicar a ser uma escritora. Ela se veste de um modo desleixado e não tem cuidado nenhum com sua aparência. O narrador é, secretamente, apaixonado por ela. Mas Surime não sente atração por ninguém até conhecer Miu, uma elegante empresária que importa vinhos da Europa. Miu é 19 anos mais velha que Surime, e casada. Nada disso importa para Surime, que se perde totalmente em sua paixão.
Não há muito mais para contar a respeito do livro sem estragá-lo. É bem curto – 229 páginas. Boa parte dele é gasta mostrando os personagens. Não é um livro cheio de acontecimentos que vão se acumulando. Ele tem um grande acontecimento que se desdobra do meio pra frente. É simples e, se não ouso dizer que é profundo, é em muitas partes aberto o bastante para que se possa refletir a respeito. E é emoção, não razão. Nisto Murakami se destaca. Há infinitos livros que lidam com paixões, mas as descrições do autor são fortes e tocantes. Impossível não se identificar com o narrador ou com Surime, ou não pensar em alguém que passou ou está na sua vida. Eu não sou de fazer anotações em livros, mas quis sublinhar várias passagens.

O livro tem bastante sexo. Pelo menos comparado com a quantidade de sexo que há em livros “normais”. Isto não me incomoda, muito pelo contrário. Quase todo livro que leio tem homicídios ou violência, mas sexo (que é algo mais comum à nossa vida e certamente mais agradável) é raro. Deixo o aviso porque sei que muita gente não gosta de ler a respeito. Neste caso é melhor procurar outro autor.
Eu tenho bastante contato com a cultura japonesa. Faço resenhas de animes há 10 anos, e neste tempo assisti bastante coisa. Já li tantos mangás e graphic novels a ponto de frequentemente estar lendo algo
e me tocar que já havia lido antes. Já assisti muitos filmes live-action, assisti a entrevistas com criadores famosos. Mas eu tenho muita dificuldade em imaginar as pessoas dos livros do Murakami como asiáticos. Tudo bem que ele seja considerado o mais ocidental dos escritores japoneses, e referências a obras ocidentais abundam em tudo que escreve (inclusive já vi mais citações a músicas brasileiras nos livros dele do que na maioria dos livros brasileiros que li na vida). Ainda assim há algo que me incomoda - não no autor, mas em mim. A tendência a ler livros americanos e ingleses acabou lavando minha mente, transformando todos os personagens de todas as obras em padrões pré-estabelecidos. Com o tempo espero desenvolver uma visão mais plural das coisas, mas é deprimente ver que as imagens que vem a minha mente ao ler estariam mais à vontade em um filme do Spielberg que do Kurosawa.
Minha Queria Sputnik é muito parecido com Norwegian Wood. Um protagonista apaixonado por leitura. Pessoas que se sentem deslocadas da sociedade. Um triângulo amoroso. Momentos chave contados por cartas. Norwegian Wood é mais pesado, mas as semelhanças ainda ficaram martelando a minha cabeça. Talvez Murakami seja um autor que escreve o mesmo livro muitas e muitas vezes, de muitos e muitos jeitos (oi, Dan Brown). Talvez seja azar que tenha feito com que eu leia dois livros parecidos em pouco tempo, mas seus outros livros são mais distintos entre si. Não sei. Só sei que ambos valem a pena. Norwegian Wood cortou mais fundo, e a ferida não cicatrizou completamente até hoje. Mas Minha Querida Sputnik é mais gostoso de ler. E o protagonista faz aniversário no mesmo dia que eu, o que não muda em nada o livro para ninguém que não nasceu dia 9 de dezembro mas me fez sentir uma criança quando vi.

Por que as pessoas têm de ser tão sós? Qual o sentido disso tudo? Milhões de pessoas neste mundo, todas ansiando, esperando que outros a satisfaçam, e contudo se isolando. Por quê? A terra foi posta aqui só para alimentar a solidão humana?

Leve este post a outro reino:

2 comentários:

  1. Oi! ;)
    Não costumo ler autores japoneses... Acho que em toda a minha vida só li dois livros (Confissões e Os Três), acho que mais por falta de oportunidade do que por interesse. Também não tenho hábito de ler mangás mesmo achando incrível! Agora a história me chamou a atenção, acho que pelo mesmo fato que você citou: por parecer com a cultura ocidental.

    Adorei a resenha! Mas não teria mesma sorte que você, pois o meu aniversário não é na mesma data haha

    Beijos

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    Respostas
    1. Li poucos também. Fora os do Murakami comecei a ler Musashi do Eiji Yoshikawa. Não terminei por falta de tempo, e fazem mais de 10 anos desde que o peguei emprestado na biblioteca pública da minha cidade. Já mangás li muitos. Queria que houvessem mais livros japoneses (light novels principalmente) traduzidos para o japonês, mas creio que a procura é baixa.

      Enquanto isso vou tentando ler os do Murakami publicados. "O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação" já está na lista e um dia aparece por aqui :P

      Beijos

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