Entre vidas - Lise

— A garota que procuramos é a reencarnação de uma jovem que foi muito importante para o nosso povo.
— Reencarnação?
— Sim, é que pensamos bem diferentes dos romanos. Para eles, quando morremos acabou. Para nós, estamos sempre nascendo e morrendo, num ciclo.
— Para que serviria isso?
— Para evoluirmos. Assim podemos aprender em cada existência, fazendo de nossas vidas grandes aprendizados. A Deusa nos quer ativos, felizes e úteis. Se só vivermos uma vida e formos para um lugar em que encontraremos a felicidade ou a danação eterna, não faria sentido para nós.
— E como eu vou saber se sou a reencarnação dessa mulher?
— Você se lembrará quando for o momento certo.

E-book cedido em parceria com a autora

Crítica: Entre Vidas - Kiara

Saudações nobres,

Apresento o segundo volume da quadrilogia “Entre Vidas” de Lady Juliana. A leitura é rápida, de um ou dois dias, com suas 185 páginas. A Rainha levou mais tempo para fazer a crítica por consequência daquele misto de faculdade, estágio, TCC, problemas pessoais e hiato do blog. As coisas saem do controle e atrasos são inevitáveis, nada que passasse por desinteresse ou falta de respeito ou prestígio para com a autora e obra. Ainda que a parceria não tenha sido renovada, a crítica não deixaria de ser postada. A qualidade da narrativa se mantém, apesar de não ter sido cativada por Lise como fui por Kiara. 

Lise é crua. Fria. Calculista e egoísta como qualquer pessoa que cresceu nas ruas de Londinium e aprendeu desde cedo a se virar sozinha deve ser. Ainda impulsiva, mas não preparada para as provações como Kiara era. São pessoas diferentes, Kiara e Lise. Com forças e experiências que evoluíram e regrediram. Seus cabelos negros e olhos claros também não são o tipo de atrativo que a jovem gostaria de possuir naquelas paragens, mas não é como se pudesse se modificar para passar despercebida pela população. A única coisa que carrega e que tem certeza que poderia explicar sua existência é o colar que sempre esteve em seu pescoço.

Um dia comum traz consigo mudanças drásticas, quando Lise tenta render um grupo na estrada. É quando há a retomada da jornada daquela alma. O maior problema está em que Lise não confia em ninguém, e quando confiou deu errado. Então, não é de se esperar que ela fosse aprender o sentimento em tão pouco tempo e suas escolhas acabam destruindo vidas e caminhos.

Personagens são reapresentados, e é possível descobrir quem são sem que seja explicitado: é agradável e mérito da autora. É fato que Riley evoluiu, mas mantém aquele ar ciumento e possessivo, os lampejos de erros do passado. Úrien não parece ter mudado muito, a essência é a mesma e o caráter também, talvez tenha sido o personagem que notei menos diferenças entre uma encarnação e outra. Nolan é uma grata surpresa, as feições são parecidas, mas a evolução é nítida. E o peso que o rapaz terá que carregar provará se nessa vida foi alguém mais capaz. Novos personagens aparecem e dão esperanças à árdua jornada de Lise, que parece impossível a cada página.

O amadurecimento da personagem vem de suas atitudes egoístas, a dor que gera a faz crescer. E o momento em que se perdoar será o mesmo que demostrará sua força para mover o mundo. O lento aprendizado da religião, da sua importância para o mundo e do seu poder de salvar vidas e garantir a paz para seu povo mais uma vez parecem distantes e complicados demais. Lise levará tempo para se adaptar e perceber a líder que vive nela. Recuperar as memórias de sua vida passada são o primeiro passo importante para que finalmente os pés sintam o chão e a força da Deusa novamente se manifeste naquela alma. 

O livro consegue sem mais agitado que o anterior, mais sangue, mais dor, mais separações. Tantas, que algumas surpreendem verdadeiramente o leitor. Creio que ninguém espera alguns desfechos, e dor estará tanto no personagem quanto no leitor. Mantenha-se preparado. 

— Sabe o que é isso, Lise? Consciência pesada — intrometeu-se Úrien friamente, olhando para ela. Lise o olhou, Úrien tinha razão. E teve razão quando disse que seu maior castigo seria conviver com isso.

Apesar de gostar mais de Kiara do que de Lise, reconheço os momentos altos da protagonista, com seu senso de humor mordaz, audácia e imprudência. Sem dúvidas, ela viveu exatamente da forma que merecia: sem mais nem menos, sofreu perdas e sacrifícios que devem influenciar a próxima encarnação de forma marcante. 

O final deixa perspectivas em aberto, do tipo que só podem ser discutidas com a autora, ou resultariam em revelações.

Assim como em Kiara, personagens históricos pontuam as páginas, e Lise terá de lidar inclusive com arenas, gladiadores e imperadores. O ar ao redor da temática e a construção de cenários foi tão boa quanto no livro anterior. Embora tenha notado – algo que posso ter deixado passar na crítica do primeiro volume – a constância das frases, o diálogo simples e cotidiano, que não remeteria exatamente às formas de colocações da época. Acredito, porém, que a opção por essa forma de diálogo seja benéfica no que diz respeito à facilidade de leitura e entendimento, frases mais rebuscadas e longas poderiam comprometer certo tipo de leitores, como está, atende a qualquer público. 

Finalizo com coração algo pesado pelos acontecimentos, por não me conformar com determinadas ações e resultados consequentes delas e me pergunto, como as novas interações e relações de Lise serão retratadas ou retomadas em Ruby (pré-venda em breve). 

“Entre Vidas” merece total atenção dos leitores, e se ainda não conhece o primeiro volume, afianço-lhe que está perdendo muito com isso.

— Por favor, escutem todos. Estou honrada pela confiança que vocês tiveram em mim, mas não posso.