Nobre tristeza

Saudações nobres,
Na correria e falta de sinal decente de internet, hoje será dia de Crônica


Nobre tristeza


Eu sou uma pessoa triste. Daquelas que queria sorrir e gargalhar como os outros. Eu não sei me divertir. Não sei sentar ali e ficar conversando sem ter mil pensamentos erráticos, não sei aproveitar os bons momentos e segundo boatos, consigo estragar os momentos alheios. É estranho ser assim. Eu quase não saio do Castelo. A torre é alta, as companhias são parcas e raras. A cada pio diferente do rouxinol me aproximo da abertura da janela para ver se tem alguém me esperando lá fora. Nem isso eu tenho: um príncipe. Eu não tenho nada. Sou seca, murcha, uma velha num corpo não tão jovem mais. Alguém cujos sonhos desbotaram como a tinta do cabelo. Alguém que finge ser quem não é e se perturba com a felicidade alheia. Alguém que deseja ferir outro, só porque aquele sorriso ostentado não tem nada de verdade. É um desejo ardente, uma obsessão aguardar o momento que aquele esgar de lábios irá se tornar torto e morto. Quero me reinventar, mas não encontro forças para dar um passo sequer na direção que deveria. Tento resistir à melancolia de me entregar a mais um dia inteiro em casa, rodeada de livros com personagens felizes como eu nunca serei. Imagino se os autores são capazes de vivenciar o amor que descrevem. Se sentem de fato todas aquelas palpitações, sorrisos e arrepios. Talvez sim, todos já experimentaram sentimentos como esses, acontece que alguns morrem, outros não. Fico revivendo e remoendo, com alguns lampejos de vida aqui e ali. Uma euforia frágil e fugidia que brinca, que faz ter esperança. É o pior sentimento do mundo. Esperança... Espero que a esperança de todos eles se esvaia com o passar dos dias, que cada amanhecer se revele um pesadelo diferente, mais escuro, mais claustrofóbico e caótico. Que o sono seja perturbado com pesadelos infinitos, num inferno permanente e vivo – pulsante -. A dor é presente, constante, companheira inseparável. Mais confiável do que aquela dama de companhia que prometeu mover o mundo e estar ao meu lado, muito embora ela não seja capaz disso. Estou rodeada de pessoas fracas como eu. De pessoas apáticas que não são capazes de mudar seus destinos ou quem realmente são. Há exceções, alguns nobres nos quais demoro meus pensamentos, tentando entender como a mecânica os mantém de pé, qual é a ciência que os rege e que move seus músculos tão meticulosamente. Tento desvendar de onde vem tamanha força e vontade. Há uma tentativa falha de ser como eles, de aprender seus truques e desenvolver sua força. Falho, miseravelmente ainda.
Mas é interessante me esconder por trás da máscara sarcástica e orgulhosa. O erguer heroico e majestoso da cabeça, o balançar de cabelos que ninguém da plebe será capaz de executar. O sorriso sedutor que só uma Rainha pode portar. O deslizar de pés que arrasta o vestido, como se movido pelo mais delicado dos ventos. Não, ninguém nunca era como ela – como eu – ou como eu quero que me enxerguem. Cabelos, olhos e sorriso perfeitos. Escondem uma dor estranha e infeliz, que mais dia menos dia pode dominar e consumir.
Ou poderei apelar para alguma força oculta – dentro ou fora de mim – que me erga. Que tire novamente meus pés do chão e façam meus olhos brilharem devidamente. Que faça alguns sonhos infantis voltarem a ter cores menos pálidas.

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1 comentários:

  1. Incrível, às vezes me sinto como ela, em uma torre, com sorrisos e palavras falsas que só fazem as pessoas ao meu redor felizes, um vazio que nem mesmo o melhor doce é capaz de preencher, mas talvez um dia tanto ela com eu possamos encontrar uma príncipe, que faça com que nossos sonhos seja mais coloridos.

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