A Lição de Anatomia do Temível Dr. Louison
Brasiliana Steampunk
Editora Leya
Enéias Tavares
entrevista
Entrevista: Enéias Tavares
Saudações
nobres,
Hoje
é um dia infinitamente especial para o autor parceiro Lorde Enéias Tavares. E
para comemorar tão importante evento, o Castelo se preparou para homenageá-lo,
fazendo-vos conhecê-lo um pouco mais.
Lorde
Enéias, parabéns! Que sejam infinitos os anos que viverá!
Entre Lordes, Damas & Audaciosos Vilões:
O Temível Dr. Louison visita o Queen’s Castle
Saudações, Lorde Enéias! Como primeira pergunta, gostaria de saber mais sobre vós: o que faz, o que fez e de onde veio a inspiração para escrever?
Querida
Rainha, fiquei muito feliz por seu delicado convite. Para mim, será uma honra
conversar com vossa realeza sobre assuntos como literatura, escrita e
retrofuturismo. Eu sou professor de literatura clássica na UFSM e pesquisador
dos livros iluminados de William Blake. Quanto ao desejo de escrever, ele é bem
antigo. Remonta aos meus primeiros anos de leitor e da emoção de ser tocado por
uma boa história.
Poderia, explicar-nos como foi o Concurso Fantasy?
Foi um
concurso pensado para autores iniciantes como eu, que ainda não havia sido
publicado por uma editora grande. Ele consistia em quatro fases, sendo o
manuscrito uma delas. A primeira exigia enviar um resumo da trama numa frase e
a segunda em um parágrafo. A última, uma entrevista com os finalistas sobre a
importância das redes sociais na divulgação da obra e da figura do autor.
Fiquei imensamente feliz por ter vencido o concurso e tudo o que aconteceu
desde então decorre desse grande investimento da Casa da Palavra/LeYa no
mercado editorial de fantasia, um mercado que ainda tem muito a crescer no
Brasil.
A vossa temática Steampunk não é muito explorada no Brasil. Conte-nos como surgiu esse mundo para vós.
Esse
interesse surgiu pela minha fascinação com o período vitoriano e suas roupas,
costumes, histórias... além de seus monstros. Como grande leitor de textos do
século 19, formei minha sensibilidade em contato com vampiros, monstros,
fantasmas e casarões apaixonantes e mesmo meus autores contemporâneos
prediletos também brincam com esses temas, como Anne Rice, Neil Gaiman e Alan
Moore. Assim, quando decidi alocar minha história em 1911, foi espontânea a
utilização desse cenário, sobretudo porque ele me proporcionaria uma bela
desculpa para usar roupas antigas e charmosas, além de bengalas.
Os autores brasileiros passam por muitas dificuldades até serem reconhecidos e conseguir publicar os livros. Sabemos do Concurso e da premiação, mas como foi o vosso caminho até a finalização de “A Lição de Anatomia do Temível Dr. Louison”?
O trabalho
criativo nunca termina, na verdade. Alguns pensam que publicar o romance é a
grande meta, mas não. Há um trabalho árduo que segue a publicação e que tem a
ver com resenhas, entrevistas, divulgações e contatos com leitores e leitoras.
Minha proposta à editora LeYa é a de que Brasiliana Steampunk seja uma série de
cinco romances, mas para que o segundo seja publicado o primeiro tem de se sair
bem nas livrarias e assim sucessivamente. Agora entendo o porquê da última fase
do concurso ser uma entrevista sobre divulgação nas redes sociais e
participação em eventos, uma vez que não se imagina mais a figura autoral como
reclusa ou apartada do mundo e dos leitores. Quanto à escrita em si, foi muito
divertida e desafiadora, trabalhando durante o dia na universidade e escrevendo
noites adentro, o que me transformou nos meses entre março e junho de 2014 num
possível figurante de Walking Dead.
Os boatos entre professores, colegas e alunos sobre minhas olheiras e minha
palidez se multiplicaram. Só depois de publicar o romance é que todos
entenderam que eu não estava passando minhas noites em orgias báquicas nem em
reuniões nefastas promovidas por criminosas sociedades secretas, e sim
escrevendo um romance de ficção científica, o que para muitos era tão
preocupante quanto as outras opções.
Temos mistérios relevados, uma trama bem amarrada e complexa. Há desejo de uma continuação? Com outros personagens como foco talvez?
Não
apenas desejo, prezada rainha. Neste momento, estou trabalhando no segundo
romance da série, que tem título provisório de O Parthenon Místico. Ele será um prequel e se passará quinze anos antes de Lição de Anatomia, revelando ao leitor e à leitora a origem dessa
misteriosa sociedade secreta. Além dos outros heróis que os leitores já viram,
este será centrado em Bento Alves, Sergio Pompeu e Vitória Acauã. Seu plot
envolverá viagens no tempo, ataques atrozes da Ordem Positivista e formação
mística e arcana. Mais que isso, minha cara, não poderei revelar, nem a vossa
senhoria. Um diferencial da série Brasiliana Steampunk é que eu não estou
pensando em sequências e sim em histórias fechadas. Ou seja, os leitores
poderão começar a série no primeiro ou no segundo ou terceiro romance, sem
problema algum. Obviamente, a leitura dos cinco volumes encerrará a saga, além
dos vários contos que estamos produzindo e publicando em nosso site oficial (www.brasilianasteampunk.com.br),
contos que pretendem servir de ponte entre um romance e outro.
Algumas narrações são um tanto pesadas. Como foi escrevê-las? Foram inspiradas em fatos conhecidos ou apenas extrema criatividade vossa?
Como
releio autores da nossa tradição literária como Machado de Assis, Lima Barreto
e Raul Pompeia, entre outros, a inspiração parte deles, uma vez que não queria
apenas usar os nomes de seus personagens mas também suas vozes. No caso da
primeira parte de Lição de Anatomia,
narrada por Isaías Caminha, ela é também um tanto pesada, para usar sua
expressão, em virtude de ser a chegada ao universo da série e do leitor
precisar de subsídios para compreender esse mundo. Isso feito, penso, os
próximos romances investirão menos na descrição e mais na narrativa, o que não
significa que não teremos a mesma multiplicidade de vozes e os mesmos recursos
literários desafiadores e instigantes.
“A Lição de Anatomia do Temível Dr. Louison” é repleto de informações. O trabalho de pesquisa foi longo?
Sim e
não. Em termos desse mosaico narrativo e literário, sim. Sobretudo porque em
muitas passagens da obra eu “aprendi” a escrever como os autores ou personagens
que estavam narrando a história do temível doutor. Por outro lado, não. Eu
adoro escrever como se montasse um quebra-cabeça. Em vista disso, me diverti
muito criando esse mundo, brincando com esses heróis e comunicando o que achava
fundamental tratar nessa história, que além de ser uma trama de suspense, é uma
trama sobre vingança, amor, escravidão, preconceito e violência, entre tantos
outros temas que estão presentes no enredo.
O que podemos aguardar para 2016? Há outros projetos?
Além
da publicação do segundo volume de Brasiliana Steampunk, teremos ainda no
primeiro semestre a divulgação de um Cardgame fantástico produzido pela editora
New Order, com concepção de Kevin Talarico e Samantha Geraldini e design e arte
de Bruno Accioly. Esse jogo servirá como uma ponte entre os dois romances, pois
apresentará personagens de ambos e também funcionará como um belo suplemento ao
universo da série, com cartas de personagens, cenários e ferramentas. Do resto,
alguns produtos fantásticos que sairão pela loja Epic Art (www.epic.art.br),
como canecas, camisetas e bustos colecionáveis dos heróis de Lição de Anatomia. Aos nossos leitores e
leitoras, não faltarão novidades.
Brasiliana Steampunk tem parceria com várias empresas
interessadas
em solidificar a literatura fantástica
nacional.
Para vós, qual a importância dos blogs literários para a literatura nacional?
Mais e
mais eles são fundamentais, querida Rainha. Hoje, eles vieram ocupar um papel
que talvez um dia o crítico literário ou o resenhista profissional poderiam ter
ocupado. Além de ajudarem leitores e leitoras a navegar no oceano infindo de
novos títulos, eles revivem o gosto pelo debate apaixonado, pela conversa estimulante,
pelo diálogo opinativo sobre literatura, autores e mercado. No caso de
Brasiliana Steampunk, Lição de Anatomia
não teria o sucesso que está tendo nas livrarias físicas e virtuais, seja em
seus exemplares impressos seja em e-book, se não fosse pelos parceiros de blogs
e sites literários. Muito obrigado a vossa pessoa, inclusive, pela ótima
resenha sobre o livro.
Por fim, gostaria novamente de agradecer-vos pela confiança. A leitura de “Lição de Anatomia do Temível Dr. Louison” foi profunda, deu arrepios e provou que o amor é decididamente o mais forte dos sentimentos (vingança também). Uma pergunta que sempre faço aos autores é: Por que “Lição de Anatomia do Temível Dr. Louison” deve ser lido?
Porque
se trata de um romance escrito com paixão e obsessão, respeitando as horas que
os leitores passarão em sua companhia. Além disso, porque é uma bela forma de
(re)vermos os heróis da nossa literatura em sua riqueza e variedade cultural,
étnica e social, algo que muitas vezes e infelizmente a escola ignora. Por fim,
porque é um romance divertido! E sinceramente, se um romance não entretém, não
merece o tempo que dedicamos a ele. Apesar das minhas pretensões insanas e
gigantescas, desde o início o principal foi escrever uma história empolgante.
Penso que os leitores e leitoras encontrarão tudo isso entre suas páginas.
Gostaria de deixar alguma mensagem para os nobres leitores?
Que
nunca esqueçam da importância de sonhar grandes sonhos. Sejam eles na vida
real, sejam eles na vida ficcional, nos braços dos seus amores ou entre as
páginas deliciosas dos seus favoritos autores.
Esta
rima – pobre, eu sei, mas sincera – é em sua homenagem, prezada rainha. Um
beijo a vossa pessoa e aos visitantes do Queen’s Castle!
Olá, tudo bem??
ResponderExcluirEntrevistas sempre são incríveis! Amo poder saber mais sobre os processos editoriais e sobre por tudo o que os autores passam.. Sempre nos sentimos um pouquinho mais próximas deles :) adorei a proposta do concurso da Fantasy.
XOXO
umnovo-roteiro.blogspot.com